O ozono atua como um agente em dermatologia através da destruição de bactérias, fungos e vírus, ao mesmo tempo que ativa a imunidade celular e humoral, atua como antioxidante e defende de diversas condições patológicas.
Os efeitos terapêuticos da Ozonoterapia dependem da sua concentração, sendo por isso, de essencial necessidade conhecer este fator (IPs).
Os óleos ozonizados consistem na combinação entre óleos insaturados e ozono que resultam na formação de 1,2,4-trioxolanos que representam a forma ativa do ozono. Este anel trioxolano leva à produção de compostos responsáveis por processos de cicatrização, mesmo (diríamos até – especialmente) na presença de exsudados que ajudam a restaurar o equilíbrio da pele danificada, ulcerizada, ou ferida das mais diversas etiologias[i].
Uma das principais vantagens da Ozonoterapia com óleos ozonizados é ser fácil de utilizar pelo paciente, seja pela sua acessibilidade no preço e armazenamento, seja pelo facto de apresentar resultados rápidos e visíveis, diminuindo o prurido e o edema quase de imediato após a sua aplicação, potenciando a adesão ao tratamento, sem o risco de efeitos adversos, usualmente, associados aos cremes com cortisona.
O seu efeito, além de antimicrobiano e equilibrante do microbioma da pele, permite uma atuação como hidratante e protetor da barreira natural da pele, sendo de especial utilidade em doentes com dermatite atópica.
O tratamento com óleos ozonizados é uma ótima forma de potenciar outros tratamentos de Ozonoterapia, podendo ser combinado perfeitamente quer com estes, quer com quaisquer outro tipo de tratamentos que estejam a ser realizados pelo doente.
Tabela 1 – Aplicabilidade Clínica da Ozonoterapia e Óleos Ozonizados
Preparação de Ozono |
Efeitos |
Utilidade Clínica |
Referência |
Água Ozonizada
Óleos Ozonizados |
Antimicrobiano
Alívio do prurido
Hidratante
Redução do Exsudado |
Infeções alérgicas
Eritema/descamação
Cicatrização de feridas e ulcerações |
[ii] |
Autohemoterapia |
Defesas antioxidantes
Imunorregulação
Modificação epigenética |
Condições crónicas e
sistémicas (inclui autoimunes)
Neuralgia pós-herpética |
[iii] |
[i] Zeng, J., & Lu, J. (2018). Mechanisms of action involved in ozone-therapy in skin diseases. International Immunopharmacology, 56, 235–241. doi:10.1016/j.intimp.2018.01.040
[ii] G.A. Borges, S.T. Elias, S.S. Da, P.O. Magalhaes, S.B. Macedo, A.P. Ribeiro, et al., In vitro evaluation of wound healing and antimicrobial potential of ozone therapy, J. Craniomaxillofac. Surg. 45 (2017) 364–370.
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Óleos ozonizados e dermatite atópica
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A dermatite atópica (AD) é uma doença inflamatória da pele, crónica e recorrente, que envolve prurido (usualmente intenso) e danos na barreira da pele, com apresentação de lesões cutâneas que variam de eritema leve, liquenificação grave a eritroderma. Afeta cerca de 20% das crianças e 10% dos adultos a nível mundial e, usualmente, apresenta-se em conjunto com outras condições, como desordens de sono, ansiedade, isolamento social e depressão[i].
O microbioma das lesões dos doentes de AD é em cerca de 90% ocupado por Staphylococcus aureus (S. aureus), o que contribui para as crises frequentes e mau prognóstico/agravamento da doença[ii]. A colonização com S. aureus contribui para a ativação de linfócitos T helper do tipo 2 (Th2), os quais são o fenótipo imune dominante neste tipo de quadros de AD[iii].
Diversas evidências têm demonstrado que uma prevalência de S. aureus aumenta significativamente a fase aguda da AD e que se correlaciona bastante com a severidade da apresentação da doença, enquanto outro grupo de bactérias típicas da pele, incluindo Propionibacterium, Corynebacterium, e Malassezia [iv] se encontram em reduzido número. Facto é que os dados apontam que a diversidade do microbioma da pele influencia a severidade e o tipo de lesões da AD[v].
A Ozonoterapia, que utiliza Ozono, um clássico oxidante e antisséptico, tem demonstrado sucesso clínico em processos que necessitam de um efeito antimicrobiano, potenciação das defesas antioxidantes, imunorregulação, modificação epigenética, biossíntese, vasodilatação e efeito analgésico. Os óleos ozonizados têm vindo a ser utlizados no tratamento de doenças inflamatórias e infeciosas da pele, pois podem de forma rápida e eficaz aliviar diversos sintomas, como prurido e edema, mitigando dessa forma a severidade da doença[vi].
Num estudo comparativo realizado em 2019, um total de 12 doentes com AD entre os seis e os 28 anos, foi reunido para verificação da eficácia e segurança da utilização de óleo ozonizado em pele atópica lesada e não lesada. Este indicativo verificou que cerca de 7 em cada 12 doentes apresentava elevado rácio de S. aureaus e presença de Staphylococcus epidermis (S. epidermis) e Staphylococcus capitis (S. capitis) e que oito doentes apresentavam também historial de bronquite asmática e/ou rinite.
Eficácia da Ozonoterapia em doentes com AD
Antes da intervenção eram visíveis manifestações clínicas de maculopápulas, erosão e exsudação, especialmente, ao nível das zonas de flexão dos membros (zona interna dos braços/cotovelo, joelhos, pescoço, axilas) onde a pele é usualmente muito seca.
Após o tratamento, ocorreu uma atenuação das pápulas inflamatórias e edema. Pelas amostras observadas por microscopia confocal reflectante (RCM). Assim, é possível perceber que apresentavam menor infiltração de células inflamatórias na epiderme, comparadas com as amostras anteriores ao mesmo.
Outra das formas de verificar a eficácia do tratamento, foi o recurso a escalas SCORAD e EASI modificadas[1] nas quais ocorreu um decréscimo de 22.15% após apenas três dias de tratamento. No final do tratamento, o decréscimo era de cerca de 48%, podendo concluir-se que o tratamento com Ozonoterapia mitiga significativamente as lesões de AD.
Diversidade do microbioma das lesões vs severidade
Foi ainda verificado que existe uma relação direta entre a diversidade do microbioma e a severidade das manifestações clínicas, lesões e recorrência da AD, tendo sido comprovado que as localizações suscetíveis de maior dano/lesão são aquelas onde se encontra uma menor diversidade bacteriana.
Efeito da Ozonoterapia na Microecologia da Pele
A Ozonoterapia tem sido aplicada em medicina como um forte oxidante que elimina microorganismos e é utilizada em mais de 50 condições patológicas, incluindo doenças de pele[vii].
O desequilíbrio do microbioma da pele tem um impacto negativo sobre as respostas inflamatórias e imunitárias na AD, contribuindo para a sua severidade[viii].
A presença de S. aureus está associada com exacerbação e reincidência da AD[ix] e o S. aureus pode levar a P. acnes, bactéria comum do microbioma da pele, espalhar a sua invasão através da produção de fatores de virulência e causar proteólise epidérmica endógena, além de dano sobre a barreira da pele[x].
As evidências demonstram que a pele não lesada nos doentes com AD apresenta uma maior diversidade bacteriana e a aplicação de óleos ozonizados pode restaurar o equilíbrio e aumentar a diversidade do microbioma.
O tratamento com óleos ozonizados diminui significativamente a proporção de Staphylococcus na composição do microbioma em doentes com lesões moderadas a severas de AD, as quais se encontram demasiado elevadas[xi].
A Ozonoterapia não só apresenta efeitos bactericidas, como permite restaurar a diversidade microbiológica nas lesões de AD, sendo possível um decréscimo na ordem dos 75% das estirpes Staphylococcus em apenas três dias de tratamento[xii].
Relativamente a outras estirpes, como o caso do grupo de Acinetobacter, estas são condicionalmente patogénicas, mas a sua apresentação induz tolerância imunitária das células dendríticas e inibição da polarização de linfócitos T helper do tipo 1 (Th1), reduzindo a reação alérgica[xiii]. Outros indicativos mostram que a A. ropheus pode estimular a produção de interleucina 10 (IL-10) por monócitos e queratinócitos de forma a modelar o rácio de diferenciação celular Th1/Th2 e, com isso exercer efeito anti-inflamatório[xiv].
O tratamento com óleos ozonizados aumenta a proporção de espécies Acinetobacter, que tem um efeito direto sobre a severidade da doença e o sobrecrescimento de Staphylococcus.
Conclusão
O tratamento de doentes com dermatite atópica que consiga incluir banhos com produtos ozonizados, aplicação de óleos e cremes (seja em todo o corpo como prevenção, ou localizado como tratamento em fase aguda) pode melhorar rapidamente a sintomatologia, aliviando o prurido e reduzindo a inflamação, ao mesmo tempo que reequilibra o microbioma da pele permitindo uma diminuição dos agentes potenciadores de severidade, como Staphylococcus, aumentando a diversidade da microecologia da pele, reduzindo o tamanho e gravidade das lesões ativas e potenciando a cicatrização da pele lesada, sendo, por isto, considerado de extrema utilidade nesta doença e uma nova e sensata abordagem na prática clínica que permite a utilização de produtos mais naturais e hipoalergénicos.
[1] Escalas de avaliação de dermatite/ferramentas que utilizam um score clínico desenvolvido e validado por um grupo de especialistas sobre a dermatite atópica
[i] D. Garmhausen, T. Hagemann, T. Bieber, I. Dimitriou, R. Fimmers, T. Diepgen, N. Novak, Characterization of different courses of atopic dermatitis in adolescent and adult patients, Allergy 68 (4) (2013) 498–506.
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[iv] H.H. Kong, J. Oh, C. Deming, S. Conlan, E.A. Grice, M.A. Beatson, E. Nomicos, E.C. Polley, H.D. Komarow, N.C.S. Program, Temporal shifts in the skin microbiome associated with disease flares and treatment in children with atopic dermatitis, Genome Res. 22 (5) (2012) 850–859.
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[v] M.L. Clausen, T. Agner, B. Lilje, S.M. Edslev, T.B. Johannesen, P.S. Andersen, Association of disease severity with skin microbiome and filaggrin gene mutations in adult atopic dermatitis, JAMA Dermatol. 154 (3) (2018) 293–300.
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G.á. Borges, S.T. Elias, S.M.M. da Silva, P.O. Magalh?es, S.B. Macedo, A.P.D. Ribeiro, E.N.S. Guerra, In vitro evaluation of wound healing and antimicrobial potential of ozone therapy, J. Craniomaxillofac. Surg. 45 (3) (2017) 364–370.
[vii] I. Zanardi, E. Borrelli, G. Valacchi, V. Travagli, V. Bocci, Ozone: a multifaceted molecule with unexpected therapeutic activity, Curr. Med. Chem. 23 (4) (2016).
V. Travagli, I. Zanardi, G. Valacchi, V. Bocci, Ozone and ozonated oils in skin diseases: a review, Mediators Inflamm. 2010 (1) (2010) 610418.
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[xii] J. Lu, M. Li, J. Huang, L. Gao, Y. Pan, Z. Fu, J. Dou, J. Huang, Y. Xiang, [Effect of ozone on Staphylococcus aureus colonization in patients with atopic dermatitis], Zhong nan da xue xue bao, Yi xue ban = J. Central South Univ. Med. Sci. 43 (2) (2018) 157–162.
[xiii] S. Brand, R. Teich, T. Dicke, H. Harb, A.Ö. Yildirim, J. Tost, R. Schneider-Stock, R.A. Waterland, U.M. Bauer, M.E. Von, Epigenetic regulation in murine offspring as a novel mechanism for transmaternal asthma protection induced by microbes, J. Allergy Clin. Immunol. 128 (3) (2011) 618–625.e7.
[xiv] N. Fyhrquist, L. Ruokolainen, A. Suomalainen, S. Lehtimäki, V. Veckman, J. Vendelin, P. Karisola, M. Lehto, T. Savinko, H. Jarva, Acinetobacter species in the skin microbiota protect against allergic sensitization and inflammation, J. Allergy Clin. Immunol. 134 (6) (2014) 1301–1309.e11.