Microbioma vaginal
O microbioma vaginal influência a qualidade de vida, defende contra agentes patogénicos e influencia a fertilidade e o sucesso reprodutivo[i].
Alterações ao equilíbrio do sistema microbiano pode resultar em alterações profundas de saúde, estando a investigação na área do microbioma debruçada sobre a determinação dos microorganismos que caracterizam um microbioma saudável por forma a correlacionar determinados perfis microbianos com sintomatologia adversa em termos ginecológicos e obstétricos[ii].
A composição da microbiota vaginal pode ser afetada por diversos fatores de saúde, desde o uso de antibióticos, atividade sexual, uso de métodos contracetivos e a própria forma de lavagem[iii].
À medida que a investigação acerca do microbioma vai avançando, é importante entender o impacto das diversas práticas de higiene vaginal sobre a microbiota e as consequências sobre a saúde.
Práticas de Higiene Íntima mais comuns e seus riscos
Diversos estudos que analisam os comportamentos de higiene íntima focam-se especialmente na irrigação vaginal, existindo indicativos de que a sua utilização varia, com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) a reportar que cerca de 20% das mulheres com idades entre os 15 e os 44 anos utilizam este método pelo menos 1x por ano[iv].
Esta prática está relacionada com diversos efeitos negativos em termos obstétricos e ginecológicos, desde doença inflamatória pélvica (DIP/PID[1]), diminuição da fertilidade, gravidez ectópica, parto prematuro, cancro cervical, vaginose bacteriana (também chamada de vaginite ou BV[2]) e aumento do risco de contágio patogénico sexualmente transmitido[v].
De acordo com uma sondagem com dados de cerca de 4000 mulheres americanas, as mulheres que realizam irrigações vaginais apresentam mais sintomas de vaginose bacteriana do que aquelas que não o fazem. Os mesmos indicativos também referem que, apesar disto, não existe correlação entre a lavagem vaginal e a incidência de BV. Dos dados desta amostra foi ainda possível verificar a existência de uma associação significativa entre a prevalência da vaginite bacteriana e o uso de toalhitas íntimas[vi].
As pesquisas realizadas sobre as práticas de higiene vaginal de mulheres americanas além das irrigações, concluíram que as que utilizavam técnicas de irrigação tinham maior propensão em utilizar outros produtos de lavagem vaginal, desde sprays[3], toalhitas, pós e soluções de lavagem[vii].
Estudos de prevalência[4] nos EUA reportam que cerca de 42 a 53% das mulheres utilizam sprays, 17 a 50% toalhitas íntimas e 23 a 46% produtos anti-prurido[viii].
Apesar de não existir uma clara justificação acerca do motivo pelo qual o uso de produtos comuns de higiene íntima se relaciona com o aumento de incidência de infeções e alterações de saúde vaginal, fica claro que a utilização destes está correlacionada com um aumento do risco destas afeções, sendo o uso de soluções de lavagem desinfetantes associado a um maior risco de infeções fúngicas e vaginose bacteriana, o uso de toalhitas íntimas ou de bebé com maior risco de UTIs e o uso de hidrantes/lubrificantes com aumento de incidência de ambas as alterações, ao mesmo tempo que as irrigações vaginais foram associadas a todas as alterações anteriormente referidas.
[1] PID do inglês pelvic inflammatory disease
[2] BV do inglês bacterial vaginosis
[3] usualmente chamado de desodorizante vaginal e de baixa utilização na Europa
[4] também chamados de transversais ou verticais
[i] Vaginal microbiome of reproductive-age women. Proc Natl Acad Sci U S A. 2011 Mar 15;108 Suppl 1:4680-7. doi: 10.1073/pnas.1002611107.
Vaginal microbiome and epithelial gene array in post-menopausal women with moderate to severe dryness. PLoS One. 2011;6(11):e26602. doi: 10.1371/journal.pone.0026602. Epub 2011 Nov 2.
Probiotic strategies for the treatment and prevention of bacterial vaginosis. Expert Opin Pharmacother. 2010 Dec;11(18):2985-95. doi: 10.1517/14656566.2010.512004.
[ii] The Vaginal Microbiome: Current Understanding and Future Directions. J Infect Dis. 2016 Aug 15;214 Suppl 1:S36-41. doi: 10.1093/infdis/jiw184.
Characterization of the vaginal microbiota of healthy Canadian women through the menstrual cycle. Microbiome. 2014 Jul 4;2:23. doi: 10.1186/2049-2618-2-23.
Resolution and characterization of distinct cpn60-based subgroups of Gardnerella vaginalis in the vaginal microbiota. PLoS One. 2012;7(8):e43009. doi: 10.1371/journal.pone.0043009.
The microbiota of the vagina and its influence on women’s health and disease. Am J Med Sci. 2012 Jan;343(1):2-9.
[iii] The influence of behaviors and relationships on the vaginal microbiota of women and their female partners: the WOW Health Study. J Infect Dis. 2014 May 15;209(10):1562-72. doi: 10.1093/infdis/jit664.
Understanding vaginal microbiome complexity from an ecological perspective. Transl Res. 2012 Oct;160(4):267-82. doi: 10.1016/j.trsl.2012.02.008.
[iv] Centre for Disease Control and Prevention. Key statistics from the national survey of family growth. 2013.
[v] Vaginal douching and reduced fertility. Am J Public Health. 1996 Jun;86(6):844-50.
Vaginal douching and adverse health effects: a meta-analysis. Am J Public Health. 1997 Jul;87(7):1207-11.
Factors linked to bacterial vaginosis in nonpregnant women. Am J Public Health. 2001 Oct;91(10):1664-70.
Risk of preterm birth that is associated with vaginal douching. Am J Obstet Gynecol. 2002 Jun;186(6):1345-50.
A longitudinal study of vaginal douching and bacterial vaginosis – a marginal structural modeling analysis. Am J Epidemiol. 2008 Jul 15;168(2):188-96. doi: 10.1093/aje/kwn103.
Intravaginal practices, vaginal infections and HIV acquisition: systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2010 Feb 9;5(2):e9119. doi: 10.1371/journal.pone.0009119.
[vi] The prevalence of bacterial vaginosis in the United States, 2001-2004; associations with symptoms, sexual behaviors, and reproductive health. Sex Transm Dis. 2007 Nov;34(11):864-9.
[vii] Vaginal douches and other feminine hygiene products: women’s practices and perceptions of product safety. Matern Child Health J. 2006 May;10(3):303-10. Epub 2006 Mar 23.
[viii] Adult feminine hygiene practices. Appl Nurs Res. 1996 Aug;9(3):123-9.
Beyond douching: use of feminine hygiene products and STI risk among young women. J Sex Med. 2009 May;6(5):1335-40. doi: 10.1111/j.1743-6109.2008.01152.x.
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Higiene íntima da mulher
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Candidíase Vulvovaginal
A candidíase vulvovaginal (VVC, vulgarmente chamada de candidíase vaginal) é uma infeção fúngica originada por espécies de Candida, com predominância para C. albicans[i]. De acordo com dados epidemiológicos[ii], aproximadamente 70% de todas as mulheres terão pelo menos um episódio de VVC ao longo da sua vida.
A doença é caracterizada por uma condição inflamatória aguda da vulva e da mucosa vaginal induzida ou acompanhada de um sobrecrescimento de organismos Candida (usualmente ubíquos e comensais[iii]).
Os sinais e sintomas são usualmente caracterizados por corrimento branco grumoso o qual adere às paredes vaginais, eritema, edema e escoriações na vulva e vagina, acompanhado usualmente de dispareunia[iv].
O despoletar da maioria dos casos de VVC está associado a diversos fatores predisponentes ou despoletantes como o uso de antibióticos, aumento dos níveis de estrogénios (uso de contracetivos orais, terapias de substituição hormonal, gravidez), diabetes mellitus mal controlado, atividade sexual e roupa demasiado justa[v].
Por outro lado, cerca de 8 a 10% das mulheres é suscetível à recorrência deste problema (RVVC)[vi] e apresenta cerca de 4 ou mais episódios anuais. Este processo infecioso recorrente é, usualmente, idiopático e independente da variedade dos potenciais fatores de risco. Estes casos requerem usualmente regimes de longo-curso com recurso a antifúngicos ao longo de muitos meses (por vezes até anos) os quais ainda assim não evitam a recorrência[vii].
De acordo com dados de 2019[viii] obtidos de 248 mulheres não-grávidas, a maioria das participantes (78%) indica história clínica de VVC, e 34% define-se como doente de RVVC. Os sinais e sintomas mais comummente experienciados são prurido, ardor e rubor em ambas as afeções, e os fatores de risco mais comuns são a utilização de antibióticos, seguido de relação sexual, alterações do clima/humidade e a utilização de produtos de higiene feminina. Mas, a maioria das mulheres (73%) aponta desconhecer a causa, afirmando que o diagnóstico foi obtido clinicamente/pelo médico, tendo as restantes mulheres referido terem sido autodiagnosticadas. O tratamento mais usual são os medicamentos de venda livre[1].
O diagnóstico realizado por médico contou com exame pélvico e análises laboratoriais, sendo o tratamento realizado com antifúngicos, especialmente no caso de RVVC onde 71% requer tratamentos farmacológicos contínuos (por vezes com a inclusão de antibióticos orais) por forma a controlar a sintomatologia, não erradicando o problema.
Ozonoterapia como Solução
Ozonoterapia no tratamento de vulvovagnite recorrente por Candida albicans[ix]
O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia de um tratamento de dieta e ozonoterapia no tratamento da RVVC.
Participaram neste estudo um total de 150 pacientes com idades entre os 30 e os 50 com vulvovaginite com pelo menos 6 meses de evolução, sem resposta ao tratamento farmacológico usual e culturas positivas para Candida albicans.
O tratamento baseou-se em terapia de hidrocólon com água ozonizada (10 sessões), aplicação de insuflações intravaginais diárias de ozono com concentração de 20 μg/mL a uma velocidade de 0,2 L/min durante 10 minutos (10 sessões), aplicação de óleo ozonizado com níveis de peróxidos entre 400 e 600 mEq durante 10 dias e 4 auto-hemoterapias à concertação de 2,0 μg 1x/semana.
No fim do tratamento a microbiota vaginal foi reequilibrada com recurso a comprimidos vaginais de Lactobacilus durante 7 dias e comprimidos orais de Lactobacilus durante 1 mês. Verificando-se que 85% das pacientes mostraram resposta favorável ao tratamento e 10% mantiveram-se assintomáticas durante 1 ano, e apenas 5% das pacientes não responderam ao tratamento.
Estes indicativos concluíram que o tratamento por Ozonoterapia intravaginal oferece uma alternativa eficaz ao tratamento convencional com fungicidas, oferecendo não só uma solução que leva à remissão dos sintomas como inclusive demonstra culturas vaginais e exsudatórias negativas nas doentes com vulvovaginite, ao mesmo tempo que aumenta igA e Lactobacilus na mucosa vaginal, demonstrando potenciar imunidade sem produzir efeito disruptivo sobre os saprófitos.
Efeito do Tratamento com Azeite Ozonizado vs Clotrimazol no tratamento da candidíase vulvovaginal[x]
Este estudo, que decorreu no Departamento de Ginecologia da Escola de Medicina de Mashhad na Universidade de Ciências Médicas de Mashhad, Irão, teve como objetivo comparar o efeito do Azeite ozonizado vs clotrimazol no tratamento da candidíase vulvovaginal.
As pacientes – num total de 100 que tivessem sido referenciadas para clínica após confirmação de candidíase vulvovaginal – foram randomizadas em dois grupos (1 a realizar tratamento com azeite ozonizado (AO) e outro com clotrimazol).
As doentes realizaram tratamento com AO ou clotrimazol durante 7 dias, sendo avaliadas no início e fim da intervenção, através de anamnese e exames paraclínicos. O estudo verificou alterações sobre prurido, ardor e leucorreia utilizando um questionário que as pacientes preencheram no início e fim dos tratamentos.
Os resultados demonstraram que ambos os grupos viram reduzidos os seus sintomas de forma significativa e em ambos as culturas vaginais para candidíase foram negativas, não ocorrendo diferenças significativas entre os 2 grupos no que se refere a efeito sobre os sintomas de prurido e leucorreia.
O grupo do clotrimazol viu a sensação de ardor mais reduzida que o grupo AO
O estudo concluiu que, considerando a potencial eficácia do óleo ozonizado em melhorar os sintomas clínicos e aspetos paraclínicos do tratamento de doentes com candidíase vulvovaginal, o tratamento pode ser uma forma tópica eficaz nestas doentes.
Atividade Antifúngica do Azeite e Azeite Ozonizado contra Candida spp. e Saprochaete spp.[xi]
Neste estudo, pretendeu-se verificar a capacidade inibitória do Azeite ozonizado sobre o crescimento de 38 estirpes de Candida albicans, Candida glabrata, Candida krusei e Candida parapsilosis, bem como, sobre Saprochaete capitata.
Foram utilizadas duas amostras diferentes de Azeite ozonizado (OZO1 com 1352 mmol—mEq/kg e OZO2 com 1053 mmol—mEq/kg) e duas amostras de Azeite (OL1 com 392 mmol—mEq/kg e OL2 com 370 mmol—mEq/kg) com diferentes parâmetros bioquímicos, os quais foram analisados e comparados de acordo com a sua capacidade antifúngica, tendo sido utilizado como controlo fluconazol.
A atividade antifúngica foi, do maior para o menor OZO1 > OZO2 > OL1 ≥ OL2, demonstrando que o Azeite ozonizado pode ajudar no controlo de agentes fúngicos, mesmo aqueles que tenham sido resistentes ao fluconazol.
Activozone Íntima Hygiene
Formulado com uma mistura equilibrada de óleos vegetais ozonizados, tensioativos muito suaves naturais, derivados de aminoácidos e extrato de aveia, esta formulação apresenta-se sem sulfatos, sem perfume e sem óleos essenciais, respeitando o pH da zona íntima, hidratando profundamente e respeitando o microbioma da zona íntima.
Destinado para a higiene íntima diária, favorece a proteção das mucosas mais sensíveis, higieniza, apazigua, alivia e acalma as sensações de desconforto, favorecendo o rápido reequilíbrio da microbiota da pele e mucosas.
[1] OTCs do inglês over-the-counter
[i] Epidemiology and pathogenesis of recurrent vulvovaginal candidiasis. Am J Obstet Gynecol. 1985 Aug 1;152(7 Pt 2):924-35.
[ii] Vulvovaginal candidiasis: epidemiologic, diagnostic, and therapeutic considerations. Am J Obstet Gynecol. 1998 Feb;178(2):203-11.
[iii] An intravaginal live Candida challenge in humans leads to new hypotheses for the immunopathogenesis of vulvovaginal candidiasis. Infect Immun. 2004 May;72(5):2939-46.
[iv] Pathogenesis and treatment of recurrent vulvovaginal candidiasis. Clin Infect Dis. 1992 Mar;14 Suppl 1:S148-53.
[v] Vaginitis. N Engl J Med. 1997 Dec 25;337(26):1896-903.
[vi] Pathogenesis and treatment of recurrent vulvovaginal candidiasis. Clin Infect Dis. 1992 Mar;14 Suppl 1:S148-53.
[vii] Candida infections of the genitourinary tract. Clin Microbiol Rev. 2010 Apr;23(2):253-73. doi: 10.1128/CMR.00076-09.
[viii] Current patient perspectives of vulvovaginal candidiasis: incidence, symptoms, management and post-treatment outcomes. BMC Womens Health. 2019 Mar 29;19(1):48. doi: 10.1186/s12905-019-0748-8.
[ix] Ozonoterapia en el tratamiento de la vulvo-vaginitis recurrente por Candida albicans. Revista Española de Ozonoterapia vol. 5, nº 1. pp 99-107, 2015. ISSN: 2174-3215
[x] The Effects of Ozonated Olive Oil and Clotrimazole Cream for Treatment of Vulvovaginal Candidiasis. Altern Ther Health Med. 2016 Jul;22(4):44-9.
[xi] Antifungal Activity of Olive Oil and Ozonated Olive Oil Against Candida Spp. and Saprochaete Spp. The Journal of the International Ozone Association. Volume 39, 2017 – Issue 6. doi.org/10.1080/01919512.2017.1322490