Eficácia dos óleos ozonizados nas infeções orais
(Versão Completa)
O ozono tem a capacidade de oxidar compostos orgânicos e inorgânicos, reagindo imediatamente com eles. Assim, é expectável que este oxide a membrana plasmática de diversos microrganismos, incluindo bactérias, vírus e fungos e, que consequentemente, os destrua.
Facto é que o ozono tem vindo a ser utilizado como desinfetante há diversos anos[i].
O efeito antimicrobiano do ozono é um dos mais estudados e a terapia oxigénio/ozono na medicina dentária contém diversos protocolos de gestão da infeção oral. À data existem três formas fundamentais de aplicação da Ozonoterapia:
- Água ozonizada;
- Óleo de Olea europea[1] ozonizado [e outros óleos como o de Helianthus annuus/Girassol];
- Ozono/oxigénio gasoso.
A água e o óleo ozonizado têm a capacidade de estabilizar e libertar o ozono de forma equilibrada, o que faz destes sistemas ideais de disponibilização de ozono.
Dadas as ações germicidas e o seu poder oxigenativo, que favorecem a regeneração tecidular, os óleos ozonizados podem ser utilizados no tratamento de alveolite, após extração do terceiro molar[ii].
Também na periodontite (seja ela agressiva ou de outra etiologia) a utilização dos óleos atuará diretamente na causa principal da patogénese da doença – infeção do periodonto por agentes patogénicos, especialmente, bactérias gram-negativas anaeróbias[iii]. Por este motivo, a aplicação tópica de óleos ozonizados na gestão da periodontite tem sido utilizada com sucesso.
Efeito Antimicrobiano
Os óleos ozonizados atuam contra bactérias, fungos e vírus.
O seu efeito antimicrobiano, é resultado da sua ação sobre as células do agente patogénico, ao danificar a membrana citoplasmática por ação da ozonólise das duplas ligações e a indução da modificação do conteúdo intracelular, que ocorre por contacto com ozónidos e peróxidos (por meio da oxidação das proteínas que origina perda de função dos organelos). Este efeito secundário de oxidação é seletivo às paredes microbianas e não afeta nem danifica as células humanas, sendo que o tratamento com óleos ozonizados é eficaz mesmo em agentes resistentes a antibioticoterapia.
A sua atividade antimicrobiana aumenta na presença de exsudados e em pH acídico.
Os óleos ozonizados conseguem ainda – pela sua forte ação oxidante – ligar-se a moléculas que na sua constituição apresentem cisteína, metionina, histidina (todas estas presentes nas paredes das membranas celulares bacterianas) e atuarem sobre os grupos tiol, desconformando as ligações e originando a disrupção do vírus.
Os óleos ozonizados permitem também inativar funções vitais de bactérias sem que estas desenvolvam imunidade à sua ação e conseguem atuar sobre bactérias gram positivas – que são mais sensíveis à sua ação – mas também sobre gram negativas, bactérias anaeróbias, sendo especialmente úteis em bactérias cariogénicas, sobretudo, Streptococcus mutans e Streptococcus sobrinus.
Nas infeções virais, é o facto dos óleos ozonizados serem ricos em peróxidos e as células infetadas serem altamente intolerantes a estes compostos que alteram a atividade da transcriptase reversa, que impede grande parte da síntese de proteínas virais[iv]. Dada a sua ação sobre diversos ácidos gordos insaturados (presentes nos envelopes e cápsides virais) existe uma rápida destruição destes agentes sem dano às células humanas.
Resumo
Além das aplicações de Ozono sob a forma gasosa e aquosa, o uso de óleos ozonizados é extremamente conveniente e fácil, sendo um produto antimicrobiano eficaz sobre diversos agentes patogénicos desde estafilococus, estreptococus, enterococus, pseudomonas, Escherichia coli e micobactérias, além de apresentarem um efeito sobre infeções fúngicas[v].
O uso dos óleos ozonizados é, de tal forma, seguro e simples que pode ser utilizado pelo doente em casa, depois dos tratamentos de dentária em clínica.
Exemplos das suas utilizações[vi]:
- Bolsa periodontal
Em clínica, com recurso a agulha hipodérmica 25G, enchendo a bolsa periodontal (repete tratamento 1x/semana).
Em casa, usa óleo ozonizado após lavagem e aplica sobre toda a gengiva.
- Procedimento cirúrgico
Em clínica, deve ser utilizada água ozonizada na irrigação durante todo o processo cirúrgico e para a lavagem final. As suturas devem ser cobertas por óleo ozonizado.
Em casa, usa o óleo ozonizado após lavagem e aplica sobre toda a gengiva 3 a 4x/dia.
- Peri-implantite
Em clínica pode ser utilizado na tentativa de salvar o implante, sendo usado o gás e a água ozonizada na lavagem e desinfeção, realizando bolsoterapia e irrigação. O óleo deve ser injetado 1x/semana.
Em casa, usa óleo ozonizado após lavagem e aplica sobre toda a gengiva 3 a 4x/dia.
[1] Azeite.
[i] The ozone paradox: ozone is a strong oxidant as well as a medical drug. Med Res Rev. 2009 Jul;29(4):646-82. doi: 10.1002/med.20150.
[ii] Shoukheba, M. Y. M., & Ali, S. A. (2014). The effects of subgingival application of ozonated olive oil gel in patient with localized aggressive periodontitis. A clinical and bacteriological study. Tanta Dental Journal, 11(1), 63–73. doi:10.1016/j.tdj.2014.04.001
[iii] The effects of subgingival application of ozonated olive oil gel in patient with localized aggressive periodontitis. A clinical and bacteriological study – Tanta Dental Journal Volume 11, Issue 1, April 2014, Pages 63-73
[iv] Seidler V, Linetskiy I, Hubálková H, Stanková H, Smucler R, Mazánek J. Ozone and its usage in general medicine and dentistry. A review article. Prague Med Rep. 2008;109(1):5-13. PMID: 19097384.
[v] Sechi LA, Lezcano I, Nunez N. Antibacterial activity of ozonized sunflower oil (Oleozon). J Microbiol. 2001;90:279–284.
Rodrigues KL, Cardoso CC, Caputo LR. Cicatrizing and antimicrobial properties of an ozonised oil from sunflower seeds. Inflammopharmacology. 2004;12:261–270
Nogales CG, Ferrari PH, Kantorovich EO. Ozone therapy in medicine and dentistry. J Contemp Dental Pract. 2008;9:1–9.
[vi] Gupta G, Mansi B. Ozone therapy in periodontics. J Med Life. 2012 Feb 22;5(1):59-67. Epub 2012 Mar 5. PMID: 22574088; PMCID: PMC3307081.