A dermatite seborreica e a caspa podem ser consideradas espectros da mesma doença, a qual afeta áreas seborreicas do corpo.
Estas duas afeções partilham muitas das suas características e respondem similarmente aos tratamentos.
São diversos os fatores ambientais e intrínsecos que contribuem para a sua patogénese: colonização pelo fungo Malassezia, as condições epidermais do doente, a secreção sebácea, a resposta imunitária e as interações entre todos estes fatores.
Uma gestão eficaz da Dermatite Seborreica e caspa requer eliminar os sintomas com tratamento anti-inflamatório e antifúngico, permitindo uma diminuição do prurido e intervenção generalizada que melhore a resposta imunitária e saúde da pele/couro cabeludo, que resulte na remissão e a(s) mantenha controlada(s).
O tratamento com óleos ozonizados pode ser al resposta ideal, pois apresenta atividade anti-inflamatória, é um potente agente antimicrobiótico com ação reconhecida sobre diversos fungos (incluindo Malassezia).
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Dermatite seborreica e caspa
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Conceito Geral, Prevalência e Incidência
A dermatite seborreica (DS) e a caspa são problemas comuns em dermatologia e afetam as áreas seborreicas do corpo, podem até, ser consideradas a mesma condição, visto que partilham muitas das suas características e respondem de forma semelhante aos tratamentos, diferindo apenas em termos de severidade e localização.
A caspa ocorre especialmente no escalpe e apresenta-se, usualmente, sem sinais de inflamação, com prurido e pele descamada (flocos). Já a dermatite, afeta diversas áreas do corpo desde cara, zona retroauricular e peito, apresentando-se por vezes com eritema, inflamação e os típicos sinais da pele em escamas e descamação, associados a prurido. A pele na caspa é usualmente branca/transparente e seca, enquanto que na DS é usualmente amarelada e oleosa.
Figura 1 – Dermatite Seborreica do Couro Cabeludo
A caspa é a apresentação mais comum e afeta cerca de 50% da população mundial, é mais prevalente em homens que em mulheres e, usualmente, começa por se apresentar na puberdade com o pico de incidência e severidade nos 20 anos de idade e uma diminuição a partir dos 50[i]. A sua incidência varia entre os diversos grupos étnicos, existindo indicativos de que a sua incidência ronda os 81 a 95% entre os afro-americanos, 66 a 82% entre os caucasianos e 30 a 42% nos asiáticos/chineses.
Diagnóstico Diferencial
O principal diagnóstico diferencial deve incluir psoríase, dermatite atópica (especialmente na forma pediátrica), tinea capitis, rosácea e lupús sistémico eritematoso (LES).
Diagnóstico |
Anamnese |
Psoríase |
Usualmente apresenta-se nas zonas palmar, plantar, unhas, joelhos, cotovelos, região lombar, couro cabeludo e áreas de pregas (embora se possam manifestar em qualquer outra parte do corpo e afetar também articulações). |
Dermatite Atópica |
A primeira lesão acontece, usualmente, a partir dos 3 meses juntamente com prurido e agitação. Por norma, apresenta-se no couro cabeludo, bochechas e atrás de pregas. Verifica-se com frequência historial familiar de atopias como eczema, asma e/ou rinite alérgica. Melhoras a partir dos 12 anos. |
Tinea capitis |
É a infeção fúngica mais comum em crianças. Apresenta-se no couro cabeludo, folículos pilosos e sobrancelhas e é facilmente transmitida. Pode adquirir o aspeto de “alopécia de cotos negros” devido aos cabelos partidos junto ao couro cabeludo, áreas de peladas de dimensões variáveis, definidas e regulares, com tendência a confluírem, por vezes, acompanhadas de outras mais pequenas, com uma superfície descamativa ou sob a forma eritematosa folicular ou descamativa, sendo que a forma descamativa tem um aspeto próximo da dermatite seborreica. |
Rosacea |
Normalmente apresenta-se no rosto. Papulopústulas e telangiectasias nas regiões malar, nariz e perioral com ligeira descamação. Edema recorrente e ruborização. |
Lúpus Sistémico Eritematoso |
Na fase aguda, borboleta com erupção na face que poupa a ponta do nariz ou pregas nasolabiais. Fotosensibilidade é comum. As lesões cutâneas estão geralmente associadas a outros sinais clínicos de LES. Histologia e testes serológicos, tais como autoanticorpos antinucleares confirmam o diagnóstico. |
Outras |
Pemphigus Foliaceous |
Eritema, escamação e crosta, primeiro presente no couro cabeludo e rosto que pode expandir-se até ao peito e costas. Histologia, imunofluorescência direita com anticorpos anti-desmogleína confirmam o diagnóstico. |
Pityriasis Rosea |
Início abrupto, aparecimento da mancha de arauto e resolução dentro de semanas. |
Syphilis Secundário |
Linfadenopatia periférica, lesões mucosas e macula-pápulas palmo-plantar. Testes serológicos, tais como VDRL/RPR, FTA-ABS para confirmar diagnóstico. |
Dermatite da Fralda |
Ocorre em superfícies convexas da pele em contacto com fraldas, tais como abdómen inferior, genitais, nádegas e coxas superiores. Dobras de pele de reserva. As pústulas são comuns. |
Histiocitose de Langerhans |
Doença multissistémica. Pápulas castanhas a arroxeadas propensas a coalescer no couro cabeludo, áreas retro-auriculares, axilas e pregas inguinais. Possíveis lesões ósseas líticas, envolvimento do fígado, baço e pulmão. Histologia para confirmar diagnóstico. |
Tabela 1 – Diagnóstico Diferencial
Fisiopatologia
A caspa apresenta vários pontos em comum com a dermatite seborreica ao nível da histologia, como hiperplasia epidermal, paraqueratose e envolvimento fúngico de Malassezia sobre as células paraqueratóticas[ii]. Na dermatite seborreica há usualmente presença de células inflamatórias como linfócitos e NK, na caspa pode existir infiltração de neutrófilos ou nenhuma ocorrência, o que pode suportar a ideia de que a caspa e a dermatite seborreica fazem parte do espectro da mesma doença com diferente severidade e localização[iii].
Tratamento
O tratamento da dermatite e da caspa deve incidir sobre eliminar os sinais, melhorar os sintomas associados – especialmente o prurido – e levar a um estado de remissão, mesmo que a longo prazo.
Dado que o principal e reconhecido mecanismo patogénico é a presença e proliferação de Malassezia, inflamação e irritação local, os tratamentos mais comuns utilizam agentes tópicos antifúngicos e anti-inflamatórios, sabonete/shampoo com base de alcatrão, gluconato ou sucinato de lítio, fototerapia e, mais recentemente, imunomodeladores como aplicações tópicas de inibidores da calcineurina e metronidazole.
A terapia mais invasiva com fármacos corticóides e/ou outros deve ser, sempre que possível localizada.
Nas terapêuticas não convencionais o uso de óleo de tea tree, as lavagens com alecrim[iv] e a utilização de Ozonoterapia mostram bastante sucesso na erradicação dos sintomas e devem ser a primeira linha de tratamento, visto serem maioritariamente eficazes e de elevada segurança.
Na realidade, a utilização dos óleos ozonizados parece ser a melhor abordagem, seja com recurso a tratamentos localizados com óleos ozonizados ou lavagens com shampoo e/ou gel de banho, já que estes melhoram a resposta imunitária[v], reduzem colonização de estirpes deletérias[vi], recuperam o microbioma da pele[vii] e eliminam eficazmente Malassezia responsável pela caspa, sendo por isso uma abordagem que consegue eliminar os sinais, melhorar os sintomas associados – especialmente o prurido – e levar a um estado de remissão.
[i] Schwartz, JR.; Cardin, CW.; Dawson, TL. Seborrheic dermatitis and dandruff. In: Baran, R.; Maibach, HI., editors. Textbook of Cosmetic dermatology. London: Martin Dunitz, Ltd; 2010. p. 230-241.
[ii] Seborrheic Dermatitis and Dandruff: A Comprehensive Review. (2015). Journal of Clinical and Investigative Dermatology, 3(2). doi:10.13188/2373-1044.1000019
[iii] Schwartz JR, Messenger AG, Tosti A, Todd G, Hordinsky M, et al. A comprehensive pathophysiology of dandruff and seborrheic dermatitis – towards a more precise definition of scalp health. Acta Derm Venereol. 2013; 93:131–137. [PubMed: 22875203]
[iv] Borda LJ, Perper M, Keri JE. Treatment of seborrheic dermatitis: a comprehensive review. J Dermatolog Treat. 2019 Mar;30(2):158-169. doi: 10.1080/09546634.2018.1473554. Epub 2018 May 24. PMID: 29737895.
[v] Topical ozone therapies improve atopic dermatitis via rapidly reducing S. aureus colonization and immunoregulation. 13thGlobal Dermatologists Congress July 23- 24, 2018 | Moscow, Russia
[vi] Ugazio E, Tullio V, Binello A, Tagliapietra S, Dosio F. Ozonated Oils as Antimicrobial Systems in Topical Applications. Their Characterization, Current Applications, and Advances in Improved Delivery Techniques. Molecules. 2020 Jan 14;25(2):334. doi: 10.3390/molecules25020334. PMID: 31947580; PMCID: PMC7024311.
[vii] Zeng J, Dou J, Gao L, Xiang Y, Huang J, Ding S, Chen J, Zeng Q, Luo Z, Tan W, Lu J. Topical ozone therapy restores microbiome diversity in atopic dermatitis. Int Immunopharmacol. 2020 Mar;80:106191. doi: 10.1016/j.intimp.2020.106191. Epub 2020 Jan 24. PMID: 31986325.