Acne
A acne vulgaris é uma desordem pilossebácea que afeta mais de 80% dos jovens.
A acne, é uma patologia de pele que ocorre durante um vasto período de tempo, quando as células da pele e sebo obstruem os folículos pilosos.
Usualmente visível através da presença de pele oleosa, pontos negros e brancos, borbulhas, quistos, comedões e até cicatrizes, a acne afeta maioritariamente jovens, mas pode fazer-se presente em pessoas de todas as idades.
O uso de medicação tópica como retinóides, antibióticos, ácido salicílico, ácido azelaico e dapsona é, normalmente, o primeiro recurso dermatológico, mas estes têm diversos efeitos adversos, desde descoloração, irritação, vermelhidão, secura e até mesmo hipotiroidismo ou dores de cabeça.
Assim, é urgente encontrar soluções alternativas e é neste sentido que os óleos ozonizados podem ser a resposta, tendo em conta que a sua aplicação tópica direta, ou a utilização de cremes produzidos com óleos ozonizados apresentam um efeito significativo sobre a patogénese da doença.
Os óleos ozonizados são um excelente e biocompatível agente anti-acneico, que poderá revolucionar o tratamento desta afeção.
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De acordo com o Global Burden of Disease Study, a acne é a oitava doença de pele mais comum, com uma prevalência estimada (entre todas as idades) de 9.38%[i]. Sendo que entre os adolescentes a prevalência estimada é de 35% a 100%[ii]. Sintomas e impactos da acne Os doentes que sofrem de acne apresentam comedões, pápulas e pústulas[iii]. Além do desconforto dos sintomas clínicos da acne, os pacientes podem experimentar outros impactos negativos. Um estudo observou, por exemplo, taxas de desemprego significativamente mais elevadas entre indivíduos com acne, para além disso, a acne afeta negativamente a vida social, autoestima e imagem corporal dos indivíduos e, muitas vezes, é co-mórbida com distúrbios psicológicos, incluindo depressão e ansiedade. Propionium acne bacterium e a acne A espécie Propionibacterium acnes – agora renomeada para Cutibacterium Acnes – residente em folículos pilossebáceos de indivíduos com e sem acne, tem um papel fundamental na indução de respostas inflamatórias do hospedeiro, cruciais para a patogénese da acne e responsáveis pela manifestação clínica da doença. A C.acnes contribui para a natureza inflamatória da acne, por estimular a libertação de citocinas pró-inflamatórias a partir de células imunes inatas, queratinócitos e sebócitos. Fatores alimentares que podem influenciar a sua severidade A influência do consumo de produtos achocolatados e chocolate tem vindo a ser associada com severidade à apresentação acneica, tendo sido realizado um estudo onde o chocolate com 99% de cacau foi usado como controle/comparação, verificando-se que o consumo deste alimento ao longo de diversas semanas não resultou numa alteração estatisticamente significativa na acne[v]. Fatores pessoais O índice de massa corporal (IMC) e ser, ou não, fumador foram correlacionados com a severidade e apresentação de acne. Óleo ozonizado no tratamento da acne O Ozono é altamente instável e na sua forma gasosa não consegue atuar sobre as células da pele, sendo necessária a sua estabilização com recurso a óleos vegetais, que o captam por intermédio dos seus PUFAS (ácidos gordos polinsaturados) formando espécies ROS (reativas de oxigénio) como peróxidos, que aumentam a atividade de fatores de transcrição redox e fatores de crescimento que, consequentemente, aceleram o ciclo celular. De uma forma geral, têm vindo a ser apontados quatro fatores que parecem ter um papel determinante na fisiopatologia da acne: Entre estes fatores, a inflamação é um ponto chave na patogénese da acne e é – sem dúvida – a mais importante em todos os estádios da formação das lesões acneicas, mesmo em fase anterior à formação de comedões. A principal razão para o potencial da utilização dos óleos ozonizados na acne é a presença de ozónidos nestas preparações, que apresentam um elevado potencial antimicrobiano e antissético que permite eliminar bactérias presentes nas mucosas e pele, criando uma elevada disrupção nas membranas bacterianas devido à peroxidação dos fosfolípidos[xii]. em ambas as vias existe também um efeito antimicrobiano. Além disto, a degradação dos subprodutos da ozonólise (processo que ocorre para a formação dos óleos vegetais) aumenta a disponibilização de oxigénio nos tecidos inflamados e isquémicos, melhorando o metabolismo tópico e a proliferação celular, que são essenciais para a rápida e eficaz cicatrização dos tecidos danificados/lesados. Um estudo clínico de 2020[xiii], refere que após um mês de utilização de um óleo ozonizado, 74% dos pacientes teve uma diminuição superior a 50% no número de lesões (inflamatórias e não-inflamatórias) e 50% teve uma diminuição de cerca de 75%, concluindo assim, que o uso de óleo ozonizado é biocompatível, eficaz e seguro no tratamento de lesões e diminuição do aparecimento da acne inflamatória e não inflamatória, sendo por isso, um poderoso agente anti acne. [i] Years lived with disability (YLDs) for 1160 sequelae of 289 diseases and injuries 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet. 2012 Dec 15;380(9859):2163-96. doi: 10.1016/S0140-6736(12)61729-2. Erratum in: Lancet. 2013 Feb 23;381(9867):628. AlMazroa, Mohammad A [added]; Memish, Ziad A [added]. PMID: 23245607; PMCID: PMC6350784. [ii] Stathakis V, Kilkenny M, Marks R. Descriptive epidemiology of acne vulgaris in the community. Australas J Dermatol. 1997 Aug;38(3):115-23. doi: 10.1111/j.1440-0960.1997.tb01126.x. PMID: 9293656. [iii] Williams HC, Dellavalle RP, Garner S. Acne vulgaris. Lancet. 2012 Jan 28;379(9813):361-72. doi: 10.1016/S0140-6736(11)60321-8. Epub 2011 Aug 29. Erratum in: Lancet. 2012 Jan 28;379(9813):314. PMID: 21880356. [iv] Mahto A. Acne vulgaris. Medicine. 2017;45(6):386–9. doi: 10.1016/j.mpmed.2017.03.003. [v] Vongraviopap S, Asawanonda P. Dark chocolate exacerbates acne. Int J Dermatol. 2016 May;55(5):587-91. doi: 10.1111/ijd.13188. Epub 2015 Dec 29. PMID: 26711092. [vi] Choi EH, Ahn SK, Lee SH. The changes of stratum corneum interstices and calcium distribution of follicular epithelium of experimentally induced comedones (EIC) by oleic acid. Exp Dermatol. 1997 Feb;6(1):29-35. doi: 10.1111/j.1600-0625.1997.tb00142.x. PMID: 9067704. [vii] Aalemi AK, Anwar I, Chen H. Dairy consumption and acne: a case control study in Kabul, Afghanistan. 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[xiii] Khaoshi, X. and Zhang, C. (2020) Formulation and Clinical Evaluation of Ozonated Olive Oil for the Treatment of Acne Vulgaris Lesions. Stem Cell, 11, 54-60.Acne
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Os comedões podem ser subdivididos em dois tipos: abertos (comummente designados de pontos negros), que são folículos obstruídos, cuja abertura está exposta ao ar e comedões fechados (pontos brancos), que são folículos obstruídos que não estão expostos ao ar[iv].
As pápulas são lesões elevadas na pele com menos de 1cm de diâmetro, enquanto, as pústulas são semelhantes às pápulas, mas inflamadas e cheias de pus. Em pacientes com acne severa, nódulos e quistos – lesões inflamadas e edemaciadas com, pelo menos, 5mm de tamanho – podem estar presentes. Além disso, outros sintomas como cicatrizes, eritema e hiperpigmentação podem ser observados em pacientes com acne.
A acne está muito correlacionada com o crescimento descontrolado desta bactéria gram-positiva, que altera a resposta imune, ao ativar o fator 31 da TLR2 (receptores Toll-Like 2). Estes recetores são parte do sistema imunitário inato contra a invasão de microorganismos e a sua ativação altera a expressão de respostas via citoquinas e quemoquinas, que estimulam as células imunitárias.
A inflamação de monócitos dos humanos pela bateria C.acnes resulta na ativação de TLR2 que, consequentemente, estimula a produção de citocinas pró-inflamatórias. Esta ativação é regulada negativamente pela CEN1HC-Br. Dependente da dose, a produção de citocinas em monócitos são inibidas, concluindo, que este péptido tem um forte poder anti-inflamatório. A CEN1HC-Br, também atua inibindo a produção de IL-12 (3), uma das principais citocinas pró-inflamatórias, essencial na ativação das respostas das células T, implicadas no desenvolvimento de lesão tecidual. Para além disso, este péptido inibe a produção de outras citocinas importantes na patogénese da acne, como é o caso das IL-6 e IL1β.
Facto é que o ácido oleico – existente em grande quantidade na manteiga de cacau – pode afetar a queratinização da pele e promover desenvolvimento de comedões, contribuindo para um agravamento da acne[vi].
Contudo, também o leite – presente nestes produtos – deve ser fator preponderante para esta associação.
Pelo menos três estudos e uma meta-análise sugerem que o consumo de leite pode aumentar a severidade da acne[vii], tendo o consumo deste alimento sido significativamente associado à presença de acne moderada a severa. Apesar disto, o consumo de queijos e iogurtes não demonstraram agravar a patologia.
Já o consumo de fibras, frutas, vegetais e peixe[viii] tem vindo a ser correlacionado com uma diminuição no risco de acne severa – apesar de ser necessário referir que sumos de fruta processados, não só não conferem esta proteção como agravam os sintomas acneicos[ix].
De forma geral, os indicativos sugerem que a severidade da acne pode ser influenciada pela dieta, ou seja, que um baixo perfil nutricional, bebidas gaseificadas, alimentos processados, carnes vermelhas, enchidos, frutos secos, ovos, fritos e alimentos com elevado perfil de gorduras hidrogenadas podem potenciar a acne, enquanto, alimentos integrais, fibras, carnes magras e peixes podem diminuir a incidência e gravidade.
Indivíduos com IMC mais elevado (≥23 kg/m2 e ≥25 kg/m2) têm maior risco, comparativamente, com indivíduos com IMCs mais baixos, provavelmente, porque quanto maior é o IMC maior é o índice glicémico e os níveis de androgénio o que, claramente, aumenta a secreção de sebo e, consequentemente, aumenta a formação das lesões acneicas.
Relativamente ao tabaco, apesar dos dados serem algo controversos, por existir quem afirme que nas mulheres jovens, fumar poderia diminuir o risco de acne[x], nós acreditamos, pelo contrário, que fumar coloca o indivíduo mais exposto a processos inflamatórios e diminui a resposta imunitária à cicatrização. É um facto que a nicotina ativa recetores celulares dos queranócitos, diminuindo a capacidade e velocidade de cicatrização.
Para além destas questões que afetam negativamente a severidade da acne, existem outras, como o sono/insónia, baixa exposição solar, stress (físico e mental), pressão (seja em casa, escola, trabalho) e o uso de maquilhagem, bem como, viver em áreas de elevado nível poluente (áreas metropolitanas e ambientes urbanos).
No entanto, existem alguns fatores que podem ajudar, tais como, a lavagem frequente da pele afetada e o uso de produtos adequados.
O uso de óleos vegetais combinados com Ozono – um processo no qual o gás de Ozono é combinado com óleos vegetais, normalmente, azeite e óleo de girassol, produzindo um óleo de utilização tópica de elevado potencial cicatrizante – tem demonstrado um enorme sucesso em diversas afeções de pele[xi].
Por outro lado, o efeito inibitório dos óleos ozonizados sobre o fator nuclear -κB faz deste agente um poderoso anti-inflamatório que em meio aquoso pode reagir de duas maneiras:
A aplicação tópica de óleos ozonizados em pele lesada tem um rápido efeito antissético, ao mesmo tempo que, apresenta um elevadíssimo efeito inibitório sobre o crescimento de bactérias gram-positivas e gram-negativas. O seu uso por períodos de 1 mês demonstrou que pode reduzir eficazmente o número de lesões da acne.
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